sábado, 26 de março de 2011

É de falar-lhe que eu gosto

Gosto de falar. O sentido que dou às histórias são sempre coincidentes e tenho a tendência de não esconder nada. Esqueço-me muitas vezes de distinguir as pessoas que ouvem as minhas histórias com uma atenção amiga daquelas que me querem ouvir pelo simples prazer de saber as "cusquices" do dia, espalhando por todas as pessoas que procuram o mesmo, seja por malícia ou não. Esqueço-me de me perguntar se confio ou não antes de dar liberdade ao meu paleio e soltar as histórias da minha vida cheias de frustrações ou alegrias, comédia ou drama.
Mas gosto de falar-lhe de cenas banais do dia-a-dia. Aquelas histórias que achamos piada sem realmente pensarmos em espalhar porque contado não é a mesma coisa. A imagem e o som presenciado mais valor têm do que descrito para outrem. Mas mesmo essas cenas esporádicas e desprovidas de emoção, quando traduzidas em palavras descritivas, são argumento da sua atenção. É um verdadeiro achado esta pessoa que me ouve com prazer e que reage ao que lhe digo. Seja entre sorrisos ou gargalhadas ou até mesmo rugas de expressão que poderão sugerir preocupação. Sim, preocupação. Esta palavra que tanta gente utiliza como cliché para justificar a sua vontade de cuscar, de saber, de fofocar. Porque se "preocupam" com as nossos assuntos. Ele não. Posso-lhe dizer o que quero sem dúvida se se preocupa comigo ou com o facto de não ter histórias de vidas alheias para espalhar. A preocupação dele é genuína. E mesmo tendo um ciclo à minha volta que não se cruze com o dele, eu sei que ele vale a pena porque somos nós. E a história que partilhei com ele não teve o fim de conto de fadas, antes uma história de vida real que criou um elo de ligação difícil de quebrar, pois foi construído com honestidade, confiança, carinho e sobretudo preocupação genuína de quem se gosta, independentemente da forma que se concebe no final. Por isso gosto de falar com ele, porque sei que sou valorizada e sou ouvida com ouvidos de interesse.
E a minha vida vai seguindo o seu rumo paralela à dele, sem nunca nos esquecermos de vez em quando de apelar ao elo que nos une, mesmo estando em círculos tão diferentes. É de falar-lhe que eu gosto. Relembra-me que há pessoas que ainda conseguem fazer o mundo valer a pena.

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